segunda-feira, 8 de julho de 2013

Vilancetes 8, 9 e 10

a este mote de Mello:
Faz escuro, mas eu canto
porque é preciso plantar.

VOLTAS
A noite vai se afastando
e, co ela, todo o labor.
A moça, de negra cor,
eis, surge, cantarolando.
E ela, assi, vai me encantando
à luz do seu claro olhar,
e a voz canora a cantar.

Andando com curtos passos;
levando à cabeça um pote;
cantando, cantando um mote!
Tão rara nestes espaços...
Tão rara que corta os laços
de quem tenta lhe tocar;
mais vale quem trabalhar.

Assi vai a camponesa
nestas noites de Verão.
Dona do meu coração,
onde encontro mor pureza.
Mas em mim só há vileza,
e ela só quer trabalhar
porque é preciso plantar.
(Vilancete 8, Vilancetes)

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a este mote meu:
Lá se vai a camponesa
co o gado todo a pascer:
sem vê-la eu não sei viver.

VOLTAS
Os verdes campos da lida
são belos, são florescidos;
são todos eles pascidos
por brutos cheios de vida;
são frutos da amada tida,
de Amor, que eu vi renascer:
sem vê-la eu não sei viver.

Cantando se vai a amante
entre os campos e arvoredos.
Ecoa a voz, cantos ledos,
enquanto o sol, seu semblante.
Ai! Este amor delirante
que em mim eu vi florescer:
sem vê-la, não sei viver.
(Vilancete 9, Vilancetes)

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a este mote meu:
Lá se vai a moça negra,
co o triste lenço na mão:
é dona do meu c'ração.

VOLTAS
Vai, à beira de um regato,
chorando na triste fonte;
vai na serra, vai no monte,
chorando seu triste fato.
Vai levando um choro lato
para mais que tem na mão:
ser dona do meu c’ração.

Tem às mãos, também, seu lenço,
que afagam o seu espanto;
não quis, eu, roubar-lhe o manto:
Fortuna tem meu assenso.
E sendo um deus que eu não venço,
Amor não pode dar, não:
ser dona do meu c’ração.
(Vilancete 10, Vilancetes)

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