segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Elegia II

Esta elegia foi inspirada no amor, nos meus estudos e na quinta das Elegias Romanas, de Goethe.

II

Cá, nesta terra, eu sigo o bom preceito:
a Antiguidade dita a experiência,
e o Moderno corrige os velhos erros.
Cá, tão bem me aprofundo na ciência
que contemplo, nas artes que produzo,
e na filosofia que pratico.
Aqui, em meio os bosques e rochedos,
Amor me comunica os seus mistérios.

É cá, neste lugar, que as diferenças
somem: não há Antigo, e nem Moderno;
aqui o espírito é também matéria.
Todos desejam que o Amor se faça
manifesto, entre todos, nesta aldeia.

Não me importa se o Mundo é imperfeito,
mas sim se aprovo nele os bons momentos.
Eu passo o dia junto à minha amiga.
Ficamos contemplando o pôr-do-sol,
e nas horas noturnas nós brincamos,
ousando conhecer o que é oculto
no corpo. Seus mistérios, orientados
pelo Amor, manifestam-se no leito.

A humanidade um dia entenderá
que ao corpo não se deve impor limites.
Eu hoje asserto com clareza grande
que metade do homem que hoje sou
eu devo ao mundo que se encontra aí...
A outra metade eu devo ao meu amor.

domingo, 1 de setembro de 2013

Os cabelos de Giovanna, Advertência


Advertência

O tema principal desta obra é tema banal na poesia. Quando isto ocorre, quero dizer, quando um poeta decide trabalhar num tema banal, ele deve ter em mente algo, algum artifício, que o faça se destacar. No meu caso específico, peço perdão pelos muitos vícios que o poema apresenta, por ser obra da juventude, mas quis crer que as poucas virtudes encontradas nesta obra seriam suficientemente capazes de maquiar os seus vícios. Para desenvolver tanto o tema principal da presente obra – o amor – quanto sua digressão maior – que dá nome a ela –, fiz uso de um motivo antigo tanto para a filosofia quanto para a arte: a mudança. O argumento geral do poema remete, neste caso específico, às Metamorfoses de Ovídio, poema que li com afinco para a criação desta mesma obra. Aliás, poetas romanos como Virgílio, Horácio e Ovídio, bem como poetas por eles inspirados, tais como Dante, Shakespeare e o nosso grande poeta árcade, Tomás Antônio Gonzaga, foram as principais fontes para a criação deste poema. Se o leitor for atento, notará duas coisas que gostaria de destacar: a maneira como a mudança se faz presente, simultaneamente, em cada parte do poema, no seu tema principal e na sua digressão maior; e a maneira como alguns versos são construídos, buscando emular versos de alguns dos poetas supracitados. O poema é composto, em sua totalidade, por 400 versos brancos em decassílabos, na sua maioria, heroicos, com a utilização de sáficos em alguns casos. Se há algo mais para dizer aqui, creio que o término deste poema representou, para mim, a superação de um amor ora idealizado, ora encarnado, para um amor incondicional. O resto fica a cargo do livre jogo de nossas faculdades interpretar e dar novos sentidos a este poema, com o qual me ocupei durante três anos de intensos estudos em minha vida.

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Segue, abaixo, os links das quatro partes do poema:

quarta-feira, 31 de julho de 2013

Soneto 7

Monarca, a borboleta, vai mudando,
queixando-se da vida passageira...
E em queixumes não vive a vida inteira
o homem a sua morte tateando?

Não vês que a vida é jogo desertando
constantemente a sorte, de maneira
que a Parca deusa, a vida costumeira
bordando, o fado vai nos destinando?

A morte, meus irmãos, é coisa certa,
quer para o valoroso ou parco humano,
ou para a consciência que em nós fez-se.

Portanto, a vida nossa que deserta
é do comum efeito do ano e ano
que passa pela gente como a messe.

segunda-feira, 15 de julho de 2013

Soneto 6

Estava Leda, mansa, um triste dia
banhando suas pernas numa fonte;
o olhar ia sumindo no horizonte
quando avista ave bela – um cisne via!

A jovem Leda o cisne seduzia,
e aos poucos Leda foi curvando a fronte.
A serpe, que matou a Laocoonte,
consumou num prazer que não soía.

Estranho o ato da ave manifesto,
mas era, o cisne, Júpiter fingido,
num outro ato seu mui desonesto.

Das ninfas sedutor já conhecido,
agora tinha Leda num só gesto
e, co ela, filho Pólux dividido.

segunda-feira, 8 de julho de 2013

Vilancetes 8, 9 e 10

a este mote de Mello:
Faz escuro, mas eu canto
porque é preciso plantar.

VOLTAS
A noite vai se afastando
e, co ela, todo o labor.
A moça, de negra cor,
eis, surge, cantarolando.
E ela, assi, vai me encantando
à luz do seu claro olhar,
e a voz canora a cantar.

Andando com curtos passos;
levando à cabeça um pote;
cantando, cantando um mote!
Tão rara nestes espaços...
Tão rara que corta os laços
de quem tenta lhe tocar;
mais vale quem trabalhar.

Assi vai a camponesa
nestas noites de Verão.
Dona do meu coração,
onde encontro mor pureza.
Mas em mim só há vileza,
e ela só quer trabalhar
porque é preciso plantar.
(Vilancete 8, Vilancetes)

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a este mote meu:
Lá se vai a camponesa
co o gado todo a pascer:
sem vê-la eu não sei viver.

VOLTAS
Os verdes campos da lida
são belos, são florescidos;
são todos eles pascidos
por brutos cheios de vida;
são frutos da amada tida,
de Amor, que eu vi renascer:
sem vê-la eu não sei viver.

Cantando se vai a amante
entre os campos e arvoredos.
Ecoa a voz, cantos ledos,
enquanto o sol, seu semblante.
Ai! Este amor delirante
que em mim eu vi florescer:
sem vê-la, não sei viver.
(Vilancete 9, Vilancetes)

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a este mote meu:
Lá se vai a moça negra,
co o triste lenço na mão:
é dona do meu c'ração.

VOLTAS
Vai, à beira de um regato,
chorando na triste fonte;
vai na serra, vai no monte,
chorando seu triste fato.
Vai levando um choro lato
para mais que tem na mão:
ser dona do meu c’ração.

Tem às mãos, também, seu lenço,
que afagam o seu espanto;
não quis, eu, roubar-lhe o manto:
Fortuna tem meu assenso.
E sendo um deus que eu não venço,
Amor não pode dar, não:
ser dona do meu c’ração.
(Vilancete 10, Vilancetes)

segunda-feira, 1 de julho de 2013

Epigrama 1

Que pode o homem face à Natureza
Se só pode a Natura amedrontar?
Os homens, no infinito, têm firmeza;
No mar, a imensidão; na vida, o mar!

domingo, 26 de maio de 2013

Soneto 5

Enquanto tive amor minha alma teve
outra alma para amar e ser amada.
Que tens, Amor, p'ra dar, se grã-espada
cortou o amor que tive, raro e breve?

Não vejo teu semblante, cor da neve;
nem toco tua pele orvalhada.
Olhai como que a vida a mim traz nada,
e a vós Fortuna e Glória ela deve.

Eu temo mais vencer a ser vencido
por uma causa nobre que destoa
um rei que arma e coroa tem vestido.

Mas triste é fim de toda gente boa,
pois todo aquele ser por loa erguido
por belo vem a ter só a coroa.

sábado, 4 de maio de 2013

Elegia I

Acabo de escrever esta elegia onde vejo, em boa medida, uma síntese das minhas leituras de Virgílio (Bucólicas), Horácio (Odes), Gonzaga (Marília de Dirceu) e Goethe (Elegias Romanas). Ademais, muitas experiências pessoais ajudaram-me a idealizar o local do poema.

I

É-me difícil retornar à terra
de onde a vida modesta me foi dada,
pois não se agradarão os meus parentes
em saber que troquei-os pelo mundo.
No entanto, nesta terra há perdurado
pães, vinho, café, frutas e oliveiras,
bem como os animais que nela brincam.
Ó, como tolo eu fui em não ter visto
que assim como perdura o alimento
nesta terra, também aqui perdura
do amor dos brutos ao amor dos homens!
E, se algum lema houver para tal terra,
que seja "liberdade, paz e amor".

terça-feira, 12 de março de 2013

Quarto soneto, após as leituras de Mênon e Górgias


– De ti, ó Sócrates, não cai um pranto
mesmo quando estás prestes a ser morto!
Não te causa algum dano ou desconforto
saberes que teus filhos choram tanto?

– Dos fatos temo mais causar espanto,
no povo dessa Atenas, que o conforto
levou ao meu comportamento absorto!
E hoje sábio sou, e triste santo...

– É triste o vosso olhar perante a gente,
com mais de dous mil anos concebidos
que nunca realizaram-se na vida!

– Mas como eu poderia ser contente,
se os homens, na indolência, têm vividos
as causas da injustiça instituída?

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

vilancete 7

Ah! como me dói saber
que o tempo amor teu levou,
mas em mim, Amor ficou.

Tu deste, Amor, sofrimento
que a senhora é testemunha
da distância que se punha
por sobre todo o alento!
Mal vi o contentamento,
pois que o tempo ele levou,
mas em mim, Amor ficou.