domingo, 30 de setembro de 2012

dois sonetos

Já havia publicado estes dois sonetos em postagens anteriores, mas é sempre bom postar novamente...

Soneto bucólico...
O campo esverdeado, a bela serra
e a imensidão das águas que é coberta
pelo céu estrelado, coisa aberta,
que dá sentido à vida e à nossa Terra...

A neve mostra o claro (o céu não erra!),
mesmo o infinito escuro que se oferta,
tem consigo a brancura bem desperta
que o mundo em paz converte e por quem berra!

Ditosas águas vão, aqui, passando
enquanto eu vou pedindo a primavera
para, co ela, colher frutos e flores...

Que harmonioso aroma que nascera
da benigna união, da qual estando
mudado os tempos, mudam-se os amores!


Soneto em homenagem à Dinamene, amante de Camões...
Tua alma foi partindo em despedida,
a chuva e o trovão te condenando,
a maré, que revolta, te abraçando,
fez trágico o destino teu em vida.

Tua sina em silêncio sucumbida,
fez com que o mar revolto, te levando,
foste a última casa em vida estando;
e ao vate foste a morte mais dorida!

Se acaso, Dinamene, recebeste
Camões no etéreo assento onde subiste,
feliz estou por vós e vosso amante.

Mas se o tal Paraíso não existe,
e nem estás co o Grande Rei celeste,
então durma em silêncio mui constante!

sábado, 22 de setembro de 2012

alguns vilancetes

a este mote meu:
Bardo. Vives pesando argumentos;
concluíste na balança
que "enquanto há vida, há 'sperança"?

VOLTA
Têmis. Este verso tem a estima
de que esperança é ter vida:
que será dela partida,
se a vida assim se não rima?
Pois a esperança é que anima:
sem ela não há mudança;
logo, se há vida, há esp’rança!




a este mote meu:
No desconcerto do mundo
resta ainda uma esperança
que não é a temperança

VOLTAS
Perdi a minha certeza
por conselho da Mentira
que, tirando a minha lira,
perdia o mundo a beleza.
Amor só traz mais tristeza...
E assim, cantando a mudança,
mo fugia a Temperança.

Foi-A entregue a minha sorte,
para todo o meu espanto,
pois de tom mudava o canto
sem que a Virtude conforte.
Vem a Esperança co a Morte;
desce ao mundo uma esperança:
Têmis, vinga a Temperança!



a este mote meu:
Foi a Pureza sumida
por desejo da maldade,
que já não tem mais Idade...

VOLTAS
Da Terra foste apartada
Tu, última deusa perfeita,
e lá nos céus foste eleita
a Pureza consagrada,
porque à Terra foi fadada
o desejo da maldade,
e cá ‘stamos nessa Idade.

Vives por entre as estrelas,
pois em mundo sem postura
é sorte ver gente pura
(quem dirá tornar a vê-las!);
as virgens são todas belas!
Astreia, vem sem maldade,
retirar-nos dessa Idade!



a este mote alheio:
Atirei o pau no gato,
mas o gato não morreu...
Ai!... que berro o gato deu!

VOLTAS
O gato estava achegado
debaixo da saia dela;
me viu! Pulou a janela
qual gato atemorizado!
Mas tendo ao canil pulado,
veio um cão e lho mordeu,
mas o gato não morreu...

Para a moça impressionar,
lá me fui salvar o gato...
Meti-me num grande mato
para um galho lá quebrar;
atirei o pau no ar,
mas no gato é que bateu!
Ai!... que berro o gato deu!

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Epigramas

Epigrama é um poema breve, mas engenhoso... E, a partir de Marcial, habituaram-se os poetas a escreverem epigramas satíricos.

Abaixo alguns epigramas que escrevi...

Epigrama erótico e amoroso...

Quedamo-nos no estado mais modesto,
Aqui, nós dois, amantes sublimados!
Eu saio bravo, altivo e muito lesto;
Tu sais tensa, mas ambos saciados:
É que uma alma transpõe-se noutra envolta,
Livre como o amor; como a dança, solta...


Epigramas satíricos...

Ó Cáspio, há mais versos p’ra escrever
Aí, na densidade do teu Mar?
Repousas na terra onde os lobos são
Homens! E tu te afliges poluído...
Mas dura pouco, ó Cáspio, volverás
Na amplidão hircânia onde o Homem jaz.



Teu orifício é tão piloso, ó César,
Que a borra gruda enquanto tu defecas!



Ó meu caro Reinaldo, te detesto,
pois o teu azedume não está
só no nome... também nós encontramos
na baba que da tua boca sai!
Estás para gastar toda a saliva
azeda que te resta ainda, Azedo!
Mas escuta este meu conselho amigo:
Quem muito fala tem pouco proveito...



Cuida que é um filósofo... besteira!
Ser bicha não é norma, Seu Olavo...
A tua boca velha cospe asneira
contra o ateu, bichinha, antigo escravo!
Penso que tu, Olavo, violentado
foste, por um graúdo travesti
de membro monstruoso, e embasbacado
tu quedaste co’a boca embaixo, ali...
Teu nome fama leva, ó Seu Carvalho,
do dia em que chupaste o grão-caralho!

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Outro soneto...


À Dinamene, amante que Camões perdeu, sem despedida, no famoso naufrágio, e dedicou-lhe alguns dos melhores sonetos da língua portuguesa.

Tua alma foi partindo em despedida,
a chuva e o trovão te condenando,
a maré, que revolta, te abraçando,
fez trágico o destino teu em vida.

Tua sina em silêncio sucumbida,
fez com que o mar revolto, te levando,
fosse a última casa em vida estando;
e ao vate foste a morte mais dorida!

Se acaso, Dinamene, recebeste
Camões no etéreo assento onde subiste,
feliz estou por vós e vosso amante.

Mas se o tal Paraíso não existe,
e nem estás com Deus, o Rei celeste,*
então durma em silêncio mui constante!

* variação do 13° verso: e nem estás co o Grande Rei celeste