quarta-feira, 28 de outubro de 2020

Cancioneiro, I

O poema abaixo é o primeiro soneto do Cancioneiro, de Petrarca. Minha tradução, mais abaixo, não ficou muito distante da de José Clemente Pozenato, quem traduziu a obra completa (publicado pela Ateliê Editorial numa edição primorosa que inclui as ilustrações de Enio Squeff).


I

Voi ch'ascoltate in rime sparse il suono
di quei sospiri ond'io nudriva 'l core
in sul mio primo giovenile errore
quand'era in parte altr'uom da quel ch'i' sono

del vario stile in ch'io piango e ragiono
fra le vane speranze e 'l van dolore,
ove sia chi per prova intenda amore,
spero trovar pietà, non che perdono.

Ma ben veggio or sí come al popol tutto
favola fui gran tempo, onde sovente
di me medesmo meco mi vergogno:

e del mio vaneggiar vergogna è 'l frutto,
e 'l pentersi, e 'l conoscer chiaramente
che quanto piace al mondo è breve sogno.

I

Vós que escutais o som que esparso rimo
co'os suspiros com que a alma me nutria,
erro que a juventude assaz premia,
outrora eu era outro, ora sublimo,

eu, que em estilo vário choro e exprimo
na vazia esperança e na agonia
de convencer quem por amor ardia,
se não a perdoar-me, o dó estimo.

É bem verdade que do vulgo arguto
fui muito tempo assunto, fartamente,
de modo que de mim eu me envergonho:

e do meu divagar vergonha é o fruto,
e o arrepender-me, e o ver mui claramente
que quanto apraz ao mundo é breve sonho.

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